DÁDIVA [bananas são radioativas]

Guilherme Iamarino
4 min readJan 28, 2021

--

Esta é curta, como curto é o tempo presente. Não revisei e nem revisarei. O tempo urge.

Sim, é infelizmente curto. O tempo presente é talvez mais passageiro do que um piscar de olhos. Ele, quando se é percebido, já pode ser configurado como passado. Assim, é difícil até mesmo dissertar sobre ele. O que é já passou, no instante em que se percebe de fato que ele uma vez existiu.

A grande questão dos filmes e séries que discutem sobre o tempo, como About Time, De Volta Para o Futuro, Bill and Teddy, Máquina do Tempo, Dark e muitos, muitos outros, até mesmo o filme dos Vingadores, é que, na minha opinião, a questão principal não é nem sobre o passado, mas sim, sobre o presente. É o presente que é discutido em todo o filme, não a questão da viagem do tempo. A prioridade de cada um destes filmes é simplesmente nos mostrar como o tempo presente é frágil e breve.

Já meio que estão atrasados no assunto, pois um certo livro vivia dizendo que somos como relva, mato que cresce e morre quase no mesmo dia, como a neblina passageira da manhã, como o pó que ao mesmo tempo em que é sacudido já levanta e se dissipa. Bom, os filmes não são tão originais assim nesse sentido. Mas ainda são bons.

Como aproveito o presente? Como entendo o que ele, de fato, é? Talvez seja mais fácil do que pareça. E assim, justamente por isso, seja o mais complicado de todos os tempos. Não há questão de tempo de oportunidade aqui, nem cronologia, mas um vislumbre rápido do que é verdadeiramente real. Não estamos falando estritamente do Kairós, ou Kronos (Chronos). É algo muito menor, muito precioso e muito único.

Presente é dádiva. A própria palavra nos ajuda a pensar assim. O nome do tipo de tempo também é o nome daquilo que você dá para alguém em seu aniversário ou no Natal. Assim, o tempo presente na verdade é o tempo da dádiva. Talvez fique mais fácil entender assim. Presente é algo que nos é dado, sem pedir, sem merecer, talvez apenas à mercê de quem dá. Assim, o tempo da dádiva segue, sendo apenas o que é.

E na dádiva, o que nos resta é aproveitar. Podemos nos espernear como um garoto que ganha meias de Natal da avó, ou então podemos nos escandalizar freneticamente porque acabamos de abrir um Nintendo 64 ou um card do Charizard.

Nas discussões sobre a radioatividade das bananas, livros de ficção científica e espaço, alienígenas, jogos e fantasia, ficamos à deriva. Em cada tempo, decisão, emoção, viagem ou profunda reflexão, sabemos que o relógio continua passando. As responsabilidades tomam a sua nota e nos manda a conta. Os amigos, família e colegas perguntam sobre todas as coisas possíveis. O tempo não parece uma dádiva. Mas só se você não entender assim. Temos diante de nós duas opções claras, ou saber que o tempo é nos dado como presente, ou viver como se ele fosse um fardo.

Se vivemos como se ele fosse um fardo, nosso trabalho será um peso, nossas responsabilidades nos serão penosas e as tristezas serão bombas atômicas à nossa esperança. Agora, se o tempo realmente é uma dádiva, uma visão mais graciosa de todas as coisas nos arrebatará, não numa felicidade pasteurizada e plastificada do sorriso pelo sorriso, mas no abraçar gentil da realidade, no beijo da justiça e da paz, na compreensão dos sofrimentos leves e momentâneos que produzem para nós um peso de glória eterno.

Claro, nos resta apenas decidir o que fazer com o tempo que nos é dado.

Não posso falar muito sobre a dádiva, porque de presentes não se fica falando muito. Se aproveita. É justamente o que Tim Lake aprende. Depois de voltar no tempo e reviver cada dia mais uma vez, percebe o grande trunfo do tempo da dádiva. O presente é uma dádiva, ou talvez a única dádiva real.

Enquanto tentamos reviver os presentes dados do passado, ou então imaginar os presentes que receberemos no futuro, podemos perder grandes e reais oportunidades de admirar e ser abalados pelos presentes que Deus está nos dando no tempo da dádiva.

A dádiva passa em menos de um segundo. E outra vem. Passa mais rápido que um piscar de olhos, dando lugar a outra. Um momento após o outro revelando a grande arte de aproveitar a dádiva. E talvez a arte real seja reconhecer que um momento após o outro revela a mesma e eterna dádiva. Lapsos de eternidade que são graça do bom Deus para que aproveitemos as boas dádivas que ele nos dá.

De todas as palavras que eu poderia dizer, é apenas assim que vejo terminando esta parte. Eu entendo muito que Deus tem me ensinado a viver apenas o “agora”, não como uma forma hedonista de carpe diem, mas como um verdadeiro entendimento de que o Bom Pastor tem me dado o que eu preciso, e o que eu não preciso não está no tempo da dádiva, simplesmente não preciso desejar. Tudo o que nos é necessário está nesse breve momento em que a eternidade toca a realidade. O breve tempo da dádiva.

Jesus Cristo veio na plenitude do tempo, ou seja, no tempo da dádiva. O presente de Cristo é justamente o ponto onde a eternidade toca o agora, o aqui. Jesus é a dádiva de Deus, ou seja, o próprio presente. Estar em Cristo, o hoje de Deus, significa de fato viver aproveitando o hoje, ou melhor aproveitando a eternidade, carpe aeternum, como um amigo meu certa vez me ensinou.

--

--