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LIÇÕES DO TEMPO [bananas são radioativas]

Guilherme Iamarino
7 min readNov 16, 2020

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Demorei para conseguir abrir uma porção de reflexões sobre o tempo, talvez por culpa do próprio tempo, a justificativa do procrastinador.

Sempre vivemos sem tempo. Mas o fato é que temos todo o tempo do mundo, e tirando o fato de alguém já ter dito isso em uma música, tiremos o tempo perdido.

Talvez as próximas reflexões sob essa infame categoria de bananas são radioativas sejam todas baseadas numa porção de cartas que enviei à minha esposa durante o nosso tempo de noivado. Sim, nos comunicávamos por cartas. Mas essa história fica para outro dia.

Foi assim que eu chamei uma série de cartas durante um período atribulado e incerto da nossa vida futura. Lições do Tempo. São mais exercícios de escrita prolixa em que eu, sem muito compromisso, deixo o pensar fluir e se transformar em palavras.

Isso é uma explicação chique para “não espere muita coisa”.

O tempo tem lições a nos ensinar, e com o tempo também aprendemos lições. Seja isso ao contrário, reverso ou eterno. Talvez esteja falando muito sobre isso e já esteja dando as mãos com o Christopher Nolan e seu último filme sobre espaço-tempo.

Mob otium é TENET etnemlaer e.

De volta para o futuro, About Time, Time Traveler´s Wife, Doctor Who, Interestelar, aquele filme do Bill e Ted, Highlander, o último Vingadores, Fringe e diversas outras séries de Sci-Fi, Star Trek e a lista continua e continua e continua.

Parece que viagem no tempo é um problemão, desde que H. G. Wells começou a escrever.

No entanto, um pequeno esboço teórico e um exemplo prático podem ser demonstrados aqui. Vou começar com uma pequena conceituação do que eu acho que seja o tempo. Afinal, conceituando o tempo podemos finalmente falar sobre ele. Não utilizarei arcabouço estritamente científico, ou filosófico. Minha instrumentalização é exatamente a de toda pessoa comum que se aventura em escrever sobre alguma coisa, o achismo.

Caso haja paciência, e tempo, vamos lá.

O tempo, sendo abstrato, está sujeito à área da filosofia. Talvez teologia também. História? Duvido muito. A história tem o poder de tornar o tempo o seu prisioneiro, apenas para objetivo de análise e não de observação. Asimov tentou alertar a gente sobre isso, mas nós, teimosos, raramente damos atenção à escritores de ficção científica com problemas para arrumar o cabelo.

Para entender o tempo é preciso realmente observá-lo, mas para observar o tempo, talvez deva-se ter muita paciência.

O tempo já a um conceito que talvez os mais maduros, ou mais velhos, não se importem muito em conceituar. Há quem se importe com a escassez dele. Há quem simplesmente se preocupe com outras coisas mais simples como incomodar os vizinhos que fazem muito barulho. Talvez por não tê-lo mais, ou por finalmente tomar a consciência que nunca o possuíram. Há uma frase famosa de uma certa canção que, se me lembro bem, era assim:

“Se eu ainda soubesse como mudar o mundo eu voltaria atrás no tempo.”

Se isso revela a minha caminhada no tempo aqui nesta terra, é preciso que eu diga que sempre fui um fã de Barão Vermelho.

Mas eu nunca soube como mudar o mundo, nem mesmo voltar no tempo. Tudo o que posso fazer é continuar a digitar.

A impressão que tenho é que quando somos mais jovens nos importamos mais com o tempo, e à medida que envelhecemos, aparentemente a discussão torna-se irrelevante. O jovem sabe mudar o mundo, e aparentemente voltar no tempo também, apesar de nunca, verdadeiramente, realizar nenhuma dessas duas ações. O velho admite que que não sabe mais como mudar o mundo, e ainda que haja a possiblidade de voltar atrás, não tem a capacidade de fazê-lo.

Talvez o problema seja justamente o tempo. Pensamos que ele é nosso para que voltemos atrás.

Será isso uma declaração do quanto somos imaturos? Do quanto não conseguimos lidar com o descontrole temporal desta vida em contagem regressiva? Será que as pessoas verdadeiramente maduras sabem que não controlam o tempo, mas ainda se importam com ele de outra maneira? Existe então uma maneira de se preocupar e relacionar com o tempo que não seja uma obsessão constante em mudar o mundo, viajar ao passado para ver os dinossauros e olhar para o futuro para descobrir quais apostas fazer para ficar rico?

Primeiro preciso tomar uma adjetivação para o tempo. O que ele é? Seria uma pessoa? Não. Seria um ponto? Talvez. Seria algo como um sentimento ou sensação? Duvido muito.

Segure as pontas aí Martin Mcfly.

Talvez a conceituação grega de Platão e Aristóteles nos ajude. Vamos tomar o tempo como um estado de lugar. Sendo o tempo um lugar, posso começar a tratar ele de uma maneira mais concreta.

Imagine o tempo como um lugar. Então, podemos entender que ele e como se fosse uma sala. Sendo o tempo uma sala, teremos que dividi-la em três partes. Vou colorir as três partes da seguinte forma, uma porção azulada representando o passado, uma porção vermelha representando o presente e uma porção esverdeada representando o futuro. As cores foram escolhidas aleatoriamente, porque nem tudo precisa ter razão nesse mundo. Só os loucos dão razão para tudo o que fazem.

Só os loucos sabem.

No centro dessa sala, que está dividida nas três cores, azul, vermelho e verde, está uma pessoa. Invente aí as suas características, deixo ao seu critério. A pessoa está bem no centro, e o chão que ela pisa é vermelho. Sabemos que é possível que esse humano, homem ou mulher, queira andar, caminhar na extensão da sala. Talvez queira visitar a parte azul, ou então ir até o futuro.

Quando ele, ou ela, anda, a sala também muda. O que era vermelho ainda continua ao seus pés, sem que possa percorrer pelo território azul, ou pelo território verde. Por mais que ande, as luzes acompanham a mesma lógica. Vermelho a seus pés, azul às suas costas e o verde à sua frente. Embora ele esteja livre para andar, o vermelho sempre o seguirá. No espaço, ele é livre, já no tempo, sempre preso ao presente.

Isso significa que é impossível uma locomoção ao passado, e ao futuro, se considerarmos que ambos são lugares. Meu corpo não pode estar no passado, pois talvez nunca esteve lá, visto que meu corpo de 2 horas atrás não é o mesmo de agora. Da mesma forma, não posso ir até o futuro, espacialmente, porque jamais conseguirei gerar tamanha transformação nas minhas células para que sejam exatamente como serão daqui a dois dias.

Por nossas próprias forças, não podemos voltar atrás toda a nossa química corporal, e muito menos as estruturas de realidade do próprio mundo. E, muito menos, conseguimos prever como será esta realidade daqui a uma semana.

É por isso que G. K. Chesterton disse que sempre o caminho mais curto para daqui a uma semana serão sete dias.

Em About Time, vemos isso ser quebrado, para um grande fim de didática temporal. Não é a viagem temporal que é importante, mas sim o que se faz com o tempo que se tem. Porque, mesmo que se viaje no tempo, ainda nos resta o presente. Há lições profundas aí que irei tratar mais para frente.

Por último, ainda falando sobre viagens no tempo, por mais que eu creia que seja realmente possível uma viagem no tempo, creio que seja muito mais fácil levar dois dias de viagem para se chegar a daqui 48 horas do que realizar uma viagem no tempo que gere uma instabilidade quântica com suas células. Talvez seja muito mais prejudicial, e no final das contas, leve mais tempo.

A menor distância para daqui a uma semana ainda será uma semana. Infelizmente, acelerar, ou voltar, não está no nosso controle. Mas o que podemos aprender então com a teoria ao redor da viagem no tempo, da manipulação do passado, presente e futuro?

É por fim que eu tento estabelecer alguma sanidade nesta reflexão, o que pode parecer impossível. A esta altura estamos com nossos cérebros fritando.

Para simplificar, precisamos parar de tratar o tempo como uma pessoa, e muito menos como um inimigo a ser conquistado. Vivemos em uma guerra temporal há muito tempo.

Hoje o tempo voa amor, escorre pelas mãos. E não tempo que volte. Então vamos viver tudo o que há para viver? Mas o que há para viver? Música confusa.

Economistas tentam prever o futuro para dar os sinais de progresso. Políticos remexem e vivem no passado tentando aumentar suas glórias e continuar em um poder que está em suas últimas horas. Nós, eu e você, vivemos culpados com a sombra de nosso passado e aterrorizados com a incerteza do futuro.

Se o tempo é uma pessoa, então é um inimigo muito voraz e terrível. Se é um lugar, pode ser uma bela sala a se estar e descansar.

Pelo Grande Scott, que a gente não se desespere muito ao não saber em que ano estamos.

Essa sociedade de poetas mortos pode aprender a viver no piso do presente, observando e aprendendo com o passado, e vislumbrando o futuro à medida que ele se apresenta diante de nós e se torna nosso presente.

Aguarde os próximos desembaraços desse novelo místico e terrível que é discutir sobre o tempo. De achismos a reflexões, seguimos em frente caminhando no presente.

“Se você está perdido, pode olhar e me encontrar, tempo depois de tempo. Se cair, eu seguro, eu estarei aqui, esperando. Tempo depois de tempo.” Tradução mais literal impossível.

Talvez o autor dessa música tenha tido familiaridade com o conceito bíblico de “de eternidade a eternidade Tu és Deus”. Se temos alguém que está a nos esperar no além-tempo, é o próprio Deus Criador.

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